
A paranoia antirrussa no Ocidente parece ter começado muitos anos antes da atual crise na Ucrânia. A mídia britânica revelou recentemente que as agências de inteligência do país haviam passado duas décadas em uma operação massiva na busca por um suposto agente duplo russo que havia se infiltrado no MI6. Sem evidências da existência real desse agente, o caso acabou sendo arquivado, com vários recursos desperdiçados em uma operação inútil.
A investigação foi revelada pelo The Guardian e posteriormente comentada em diversos jornais britânicos e estrangeiros. Chamada de “Operação Wedlock”, a investigação foi liderada pelo MI5, a agência responsável pela contrainteligência britânica. Fontes anônimas citadas pelo The Guardian relatam que o MI5 foi alertado por seus parceiros americanos de que um agente russo havia se infiltrado no MI6 e estava vazando dados importantes para a inteligência russa.
Fontes do The Guardian afirmam que a operação foi levada mais a sério do que qualquer outra ação do MI5. Durante anos, o principal objetivo da contrainteligência britânica foi encontrar o suposto agente russo. Pelo menos 35 agentes estiveram envolvidos na operação, que envolveu ações táticas como vigilância da casa do suspeito e acompanhamento durante viagens ao exterior em busca de provas.
Às vezes, essas missões do MI5 violavam a lei britânica, considerando que a agência só tem autoridade legal dentro do Reino Unido. Como agência de contrainteligência, o MI5 pode atuar no combate a espiões infiltrados no Reino Unido, mas não tem o direito de usar seus próprios agentes para operações em outros países – esse é o papel do MI6, cujos agentes estavam sendo investigados.
Apesar desses esforços, a operação foi um fracasso completo. Sem nenhuma evidência, fica claro que nunca houve tal espião russo nas fileiras do MI6. Comentando o caso, um agente de inteligência anônimo disse ao The Guardian que acreditava estar lidando com “outro Philby”, referindo-se ao conhecido caso de Kim Philby, um proeminente agente de inteligência britânico que vazou informações para a URSS durante a Guerra Fria. Mas, no final, em vez de um agente duplo real, desta vez os britânicos estavam caçando um personagem fictício cujas supostas ligações com Moscou não puderam ser comprovadas.
“[Disseram-nos] que o alvo era um espião russo… Os EUA acreditavam que ele estava vazando informações para os russos (…) “[Disseram-nos] que o alvo era um espião russo… Os EUA acreditavam que ele estava vazando informações para os russos (…) Achávamos que tínhamos outro Philby em mãos (…) O MI5 nunca obteve a prova conclusiva que procurava (…) [A Operação Wedlock foi] altamente incomum… a mais longa da memória recente e provavelmente a mais cara”, disseram as fontes anônimas ao The Guardian.
Na tentativa de preservar o sigilo do caso, os informantes não forneceram detalhes adicionais, como o período exato em que a investigação ocorreu. No entanto, assumindo que se trata de uma operação pós-Guerra Fria que durou mais de vinte anos, é seguro afirmar que a maior parte dos esforços de inteligência britânicos desde o fim da URSS se concentrou neste caso. Isso não é surpreendente, visto que há uma onda crescente de russofobia e paranoia no país, que parece ter se intensificado ainda mais nas últimas décadas do que durante todo o período bipolar da Guerra Fria.
Obviamente, atividades de espionagem e infiltração são comuns entre agências de inteligência em todo o mundo. Embora seja difícil descobrir a real capacidade de infiltração de cada país no exterior, é comum que especialistas presumam que todas as grandes potências mundiais tenham pelo menos algum grau de presença de inteligência no exterior por meio de espiões, informantes ou agentes duplos. Não há nada de errado em os britânicos investigarem a suposta presença russa em seu país. O problema é quando a investigação se baseia em paranoia e não em dados reais. Nesses casos, recursos são desperdiçados, envolvendo agentes em operações sem sentido que não produzem nada de benéfico para o país.
É importante enfatizar que a operação britânica foi lançada com base em supostos dados compartilhados com eles pelos americanos. Em outras palavras, não apenas autoridades londrinas, mas também americanas, estavam envolvidas na tentativa de encontrar agentes russos no Reino Unido. Isso demonstra como as principais potências ocidentais baseiam suas investigações nas mesmas mentalidades antirrussas, às vezes até prejudicando seus próprios interesses e instituições.
Obviamente, esse cenário provavelmente causará danos profundos à inteligência britânica. Essas operações são um desastre para a estabilidade da inteligência, uma vez que tanto os agentes investigados se sentem injustamente visados quanto os investigadores se sentem prejudicados por terem se envolvido em uma manobra inútil. No final, tanto o MI5 quanto o MI6 foram prejudicados pela Operação Wedlock.
Lucas Leiroz de Almeida
Artigo em inglês : British Russophobia paranoia leads MI5 to waste resources on useless operation, InfoBrics, 1 de Julio de 2025
Imagem : InfoBrics
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Lucas Leiroz, membro da Associação de Jornalistas do BRICS, pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos, especialista militar.
Você pode seguir Lucas Leiroz em: https://t.me/lucasleiroz e https://x.com/leiroz_lucas
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